SABIA QUE…
Entravam bem trajados pela Rua dos Condes, como se fossem para o teatro. Empresários, políticos, artistas, médicos, jornalistas, aristocratas e plebeus, monárquicos e republicanos, maçons, ultraconservadores e revolucionários passavam as bilheteiras sem parar, desciam dois lanços de escada e tocavam à porta da sociedade ‘secreta’ dos makavenkos… um clube privado lisboeta para polígamos “de todas as qualidades, excepto os vadios”, que gostavam de petiscar na mesa e na cama. Ali, cozinhava quem sabia e desfrutava quem podia, sempre em agradável companhia feminina, também aceite sem descriminação de classe, da nobreza à rua, conforme as paixões dos convivas.
O clube fora fundado, em 1884, por Francisco Grandella e mais 12 amigos que gostavam de patuscadas, reinava ainda D. Luís. A divisa escolhida foi a da britânica Ordem da Jarreteira, a comenda da liga azul, honni soit qui mal y pense, talvez por ter sido inspirada por uma amante de rei que deixou cair uma liga quando com ele dançava num baile da corte. Pelos primeiros estatutos, os sócios não ultrapassavam o número 13 (regra rapidamente alterada para integrar mais 13 e mais 13… ao longo dos anos, o clube teve mais de 100 sócios), mas podiam levar convidados. Todos eram iguais perante a sopa, o copo e as makavenkas e nenhum podia namoriscar com a mesma por mais de 15 dias. Findo este período ela seria declarada “praça aberta” e ele, se insistisse, levava o título de “lamechas” e a intimação para pôr fim ao relacionamento em 24 horas.
Onde primeiro se assentaram os comensais foi no Palacete do Conde de Antas, no jardim, também casa de várias espécies de animais, por isso denominado Parque Zoológico. Todavia, os makavenkos nunca deixaram de saltitar por outras casas e restaurantes, até o empresário Grandella comprar o terreno do velho Teatro Condes e mandar reconstruí-lo em 1888, reservando a cave para prazeres levemente ligados à dramaturgia, não obstante vulgarmente se enchia de autores, actores e actrizes… E ali se implantou a sede makavenkal para jantares, festas, banquetes e, mesmo, sessões de espiritismo, por onde passou uma boa parte da alta sociedade e da intelectualidade masculina.