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Rito Escocês Antigo e Aceito

Bem conhecido pelos maçons, o Rito Escocês Antigo e Aceito, também conhecido como “REAA”, é hoje um dos rituais mais praticados no mundo.

Mas quais são as suas origens?

Para entender a origem dos rituais das lojas do Rito Escocês Antigo e Aceito devemos abordar duas áreas intimamente interligadas, a história e os “altos graus” também, antigamente, conhecidos como “graus adicionais”.

Ao longo do século XVIII, as lojas azuis irlandesas trabalhavam com muitos “graus adicionais” e comunicavam-nos aos seus membros.

A separação entre os três primeiros graus e todos os outros, na maioria dos países do mundo, ocorre somente depois de 1813, data essencial para a história da Maçonaria.

O século XVIII para lá do Canal da Mancha

Durante a segunda metade do século XVIII duas Grandes Lojas rivais coexistiam em Inglaterra. A primeira loja foi fundada em 1717, à qual se devem as Constituições de Anderson. A outra loja foi criada também em Londres, anos mais tarde, em 1751, sendo que os seus fundadores nunca pertenceram à Grande Loja de 1717.

Trabalhadores imigrantes irlandeses, de origens modestas, convencidos de que o seu Rito era único e autêntico, auto denominaram-se Grande Loja dos Antigos e atribuíram à sua antecessora, a Grande Loja de 1717 a designação de Grande Loja dos Modernos.

Estas duas Grandes Lojas digladiaram-se mutuamente durante mais de sessenta anos, devido às diferenças entre os respectivos rituais, não só em Inglaterra mas também nas Colónias Inglesas da América – Colónias essas que se tornaram independentes em 1776 para constituírem os Estados Unidos da América.

As Grandes Lojas da Irlanda e da Escócia tinham relações, apenas, com a Grande Loja dos Antigos com a qual estavam de acordo ao acusarem “os Modernos” de não respeitarem os Landmarks. Foram estas duas Grandes Lojas rivais que se uniram e fundaram a atual Grande Loja Unida de Inglaterra.

O Tratado de União foi assinado em Londres em 25 de Novembro de 1813 e ratificado ao som de charamelas e de trombetas em 27 de Dezembro desse ano.

E no artigo 2 deste Tratado pode ler-se que:

  • A “pura maçonaria antiga consiste em três graus e não mais, aprendiz, companheiro e mestre, incluindo a Suprema Ordem do Arco Real.”

Fórmula admirável ilustrando o senso de compromisso e a falta de lógica britânica:

  • Existem apenas três graus … que, afinal, são quatro…

Porque, para a Grande Loja dos Antigos, a de 1751, a Maçonaria incluía não três, mas quatro graus, sendo o quarto, o Royal Arch.

O século XVIII em França

Desde 1728 (ou 1729), que existia a primeira Grande Loja de França cuja data de fundação, desconhecemos, sendo que também a maçonaria francesa estava dividida. 

Em 1773, a maioria das lojas decidiu que os Veneráveis passariam a ser eleitos, enquanto que antes, pelo menos em Paris, os cargos de veneráveis mestres eram “Ad vitu”, ou seja, vitalícios. Uma minoria recusou esta nova disposição e sobreviveu como o Grande Oriente de Clermont.

A maioria assumiu o nome de Grande Oriente de França, Obediência que ainda existe nos dias de hoje como a maior, mais antiga e mais importante Obediência da Maçonaria Universal.

Diferentemente de Inglaterra, foi a questão administrativa da eleição do Venerável de Loja e não uma questão de ritual, o que separou as duas Grandes Obediências de França.

Em 1782, o Grande Oriente da França criou uma Câmara de Administração de Altos Graus que enviou às suas lojas, ainda antes da Revolução Francesa de 1789, o texto dos rituais com os quais concordava e que deveriam ser adotados e usados em trabalho.

A união das duas Grandes Lojas francesas foi alcançada em 1799, mas, de duração efémera, porque durou, apenas, cinco anos. Para entendermos os motivos, precisamos voltar aos graus adicionais e à fundação do Supremo Conselho de França em 1804.

O século XVIII do outro lado do Atlântico

No século XVIII, quando um Maçom recebia um grau adicional, tinha o direito de o transmitir a outro irmão.

Na Europa, estes graus não estavam ainda constituídos nem em rito ou sistema, e nem estavam sob nenhuma autoridade nacional, com possibilidade de controlar a sua evolução e progressão, com exceção do Grão Priorado da Helvetia, fundado em 1779.

Um comerciante francês, nascido em Cahors por volta de 1717, Étienne Morin, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da Maçonaria em Bordeaux.

Viajava frequentemente entre França e Santo Domingo, naquela época Colónia Francesa e, recebeu em Paris em 1761, uma carta patente, constitutiva, que lhe conferia o direito de atribuir os “graus sublimes” então conhecidos da primeira Grande Loja da França.

Chegado a Santo Domingo, o comerciante auferiu grandes lucros e ganhou muito dinheiro; com uma inteligência notável foi acrescentando outros graus e fundou na Jamaica em 1769, um Capítulo com um total de vinte e cinco graus e a que chamou “Ordem do Real Segredo.”

Etienne Morin morreu na Jamaica, em Novembro de 1771.

A “Ordem do Real Segredo” foi levada para a América do Norte pelo seu braço direito, Henry Andrew Francken que, por ali e durante várias décadas prosperou, vendendo graus, apesar de ser, completamente, desconhecido na Europa daquela época.

A Declaração de Independência dos Estados Unidos foi escrita em 04 de Julho de 1776, em Filadélfia. A guerra da independência durou seis anos.

Em junho de 1781 realizou-se uma reunião em Filadélfia, na qual foram nomeados os Grandes Inspetores para supervisionar a “Ordem do Real Segredo” em diversos estados norte-americanos.

Quando os negros revoltados expulsaram de Santo Domingo os colonizadores franceses, muitos desses Colonos refugiaram-se na Carolina do Sul, em Charleston.

Este pequeno porto na costa leste tinha, então, 16.000 habitantes, dos quais, um terço, negros.

Ali existiam, tal como na Inglaterra, duas Grandes Lojas rivais, os Antigos e os Modernos.

Havia, igualmente, desde 1783 uma Loja de Perfeição e, desde 1788 um Grande Conselho de Príncipes de Jerusalém e um Consistório de Príncipes do Real Segredo, tendo sido também fundados, um pouco mais tarde, um Capítulo da Rosa Cruz de acordo com o rito do Grande Oriente da França e um Capítulo da Ordem Real da Escócia.

O Conde de Grasse-Tilly

Entre os refugiados franceses em Charleston em 1793 estava um francês 28 anos, o Conde de Grasse-Tilly, cujo pai, o almirante de Grasse havia ajudado os americanos durante a Guerra da Independência.

Com seu padrasto, Jean Baptiste Marie Delahogue, o Conde de Grasse fundou em Charleston, em 24 de Julho de 1796 uma loja independente, La Candeur, que apenas se viria a filiar na Grande Loja do Estado da Carolina do Sul (dos Modernos) em Janeiro de 1796.

No mês de Novembro seguinte, chegaria a Charleston um médico, oriundo da Jamaica, Hyman Isaac Long, Inspector Geral da Ordem do Real Segredo, que tinha consigo um caderno dos vinte e cinco graus do rito.

Muito doente, perto da morte e, arruinado; a loja La Candeur ajudou-o financeiramente.

Para mostrar sua gratidão, Long conferiu os graus do rito a alguns membros da loja La Candeur, nomeou-os Inspetores Gerais Adjuntos e criou sob a sua autoridade uma “loja” de Cavaleiros Kadosh.

Parece que foi essa “loja” que se veio a transformar no Conselho de Príncipes do Real Segredo, após a morte de Long.

Em 04 de Agosto de 1799, Grasse-Tilly demitiu-se da loja La Candeur e fundou uma nova loja, La Reunion Française sob os auspícios da Grande Loja dos Antigos.

Esta era, de longe, a loja mais numerosa da Carolina do Sul, a que pertenciam os membros dos “altos graus” de Charleston, incluindo os Príncipes do Real Segredo, cujo Consistório tinha sido, anteriormente, fundado sob a autoridade de Filadélfia.

É muito provável que, dissensões e discussões fraturantes tenham ocorrido entre Grasse-Tilly e Delahogue mas, desses assuntos nada sabemos.

O primeiro Supremo Conselho

O que se sabe é que em 1 de Janeiro de 1803, o Supremo Conselho dos Estados Unidos anunciou sua criação de 31 de Maio de 1801, em Charleston por meio de uma circular enviada a nível mundial.

Essa Circular listava os 33 graus de seu rito, sob a autoridade de seus Soberanos Grandes Inspetores Gerais, e afirmava que a Grande Constituição do grau 33 tinha sido ratificada em 01 de Maio de 1786 por Frederico II, rei da Prússia, então “Grande Comandante da Ordem do Real Segredo”.

Grasse-Tilly e Delahogue eram membros deste Supremo Conselho que lhes forneceu credenciais em 21 de Fevereiro de 1802. Graças a elas, retornando a Paris em 1804, Grasse-Tilly criou ali o Supremo Conselho da França.

Imediatamente, algumas lojas ditas “escocesas”, que não reconheciam a autoridade do Grande Oriente da França, colocaram-se sob a sua autoridade. Em Outubro desse ano, essas Lojas constituíram-se numa Grande Loja Escocesa que se reuniu apenas seis vezes.

Por meio de uma Concordata assinada com o Grande Oriente de França, em Dezembro desse ano, essa Grande Loja desapareceu.

E é no texto dessa Concordata que aparece pela primeira vez a expressão “Rito Escocês Antigo e Aceito”, expressão que permaneceu ignorada por muito tempo nos Estados Unidos da América.

A Concordata foi denunciada e o Supremo Conselho da França criou lojas azuis sob a sua autoridade.

Mas era preciso distinguir o Rito que essas lojas viriam a utilizar nos graus simbólicos e, para fazer isso, essas Lojas adotaram o rito da Grande Loja dos Antigos, que os franceses, regressados da América, tinham praticado, com ligeiras alterações.

Basta comparar as primeiras divulgações inglesas de 1760, “Three Distinct Knocks” e “Jachin and Boax”, com os rituais dessas lojas para encontrar as semelhanças e muitas vezes até, uma perfeita sobreposição e identidade.

Antigos e Modernos, a eterna rivalidade

Quando o Grande Secretário dos Antigos, o pintor irlandês Laurence Dermott publicou em 1764 a segunda edição do seu Aimã Rezon, livro que é para a Grande Loja o que as Constituições de Anderson são para os Modernos!

E foi assim, desta forma que a Maçonaria especulativa no século XVIII criou o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Ora, nos séculos XIX, XX e XI este Rito Escocês Antigo e Aceito tornou-se no Rito mais praticado pelos Maçons, em todo o Mundo.

A Grande Loja Simbólica de Portugal com Cartas Patentes para o Rito Escocês Antigo e Aceito, emitidas pelo Grande Oriente de França tem já a operar no Oriente de Oeiras a Respeitável Loja José Damião e no Oriente de Viseu a Respeitável Loja Grão Vasco, ambas a trabalhar com este Rito, anunciando-se para muito breve, outras Lojas do Rito Escocês Antigo e Aceito, por todo o País!”

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