A MAÇONARIA NO ESTADO NOVO

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A Revolução de 28 de Maio de 1926 não promoveu, nos primeiros anos, qualquer ofensiva contra a Maçonaria, talvez porque alguns dos seus chefes, incluindo Carmona e o Almirante Cabeçadas, eram maçons.

A entrada de Salazar para o governo e a sua rápida ascensão tutelar, aliada à crescente influência da direita reacionária, reavivou os velhos ódios das forças obscurantistas. Em 16 de Abril de 1929, tendo sido eleito Grão -Mestre António José de Almeida, o palácio do Grémio Lusitano, sede da Ordem, é assaltado por forças policiais e por uma horda de civis onde se teria destacado o jovem Marcelo Caetano. Muitos maçons foram presos e muitos documentos confiscados. Foram praticados atos de vandalismo, incluindo destruição de símbolos, móveis e obras de arte. Era o início da «longa noite fascista», expressão que, no caso, não constitui uma simples metáfora, mas uma tenebrosa realidade que levou muitos obreiros à cadeia, ao exílio e à demissão. De facto, o Estado Novo instituiu a Maçonaria como seu inimigo principal, por isso que as grandes figuras da democracia se acolhiam entre as suas colunas. O golpe que a ditadura supunha mortal foi desferido em 19 de Janeiro de 1935 com a apresentação, na recém-instalada Assembleia Nacional, de um projeto de Lei subscrito pelo deputado José Cabral, proibindo as «associações secretas» e confiscando -lhe todos os bens. É claro que, embora o projeto o não referisse, o seu único alvo era a Maçonaria. As reações não se fizeram esperar. Em 4 de Fevereiro Fernando Pessoa publica no Diário de Lisboa um vigoroso artigo em defesa da Maçonaria (que reproduzimos adiante por constituir um notável documento histórico). O Grão -Mestre Norton de Matos expôs o protesto da Ordem ao presidente da Assembleia Nacional, Dr. José Alberto dos Reis, ele próprio antigo maçon. Tudo em vão, porque o ditador já tinha decidido varrer os «pedreiros livres» da terra portuguesa, à semelhança do que, séculos antes, fora tentado pela Inquisição. A lei foi votada por unanimidade e publicada no Diário do Governo em 21 de Maio (Lei 1901). A partir daí todos os que quisessem exercer funções públicas tinham que declarar, por sua honra, que não pertenciam, nem jamais pertenceriam, a qualquer associação secreta.

A Maçonaria fora, assim, «legalmente» dissolvida em Portugal. O Palácio Maçónico foi confiscado (Lei 1950, de 18 -2 -1937) e nele instalado um Quartel da Legião Portuguesa. Muitos maçons e outros democratas começaram então a frequentar as masmorras da ditadura. É claro que a Ordem maçónica não se extinguiu. Pode-se eliminar as pessoas, e algumas foram mesmo eliminadas, e destruir os bens, mas não se pode erradicar as ideias, sobretudo as ideias generosas que visam a libertação do homem, e são tão velhas como a própria Humanidade. Algumas Lojas mantiveram a «Luz» acesa na mais rigorosa clandestinidade. Como os primeiros cristãos, também perseguidos pelos seus ideais «subversivos», a Maçonaria emergiu das catacumbas na radiosa manhã de 25 de Abril de 1974, conduzida, desde 1937, pelo Grão -Mestre Luís Gonçalves Rebordão, oficial do exército na reserva e advogado.

No final publicamos a relação de todos os Grão Mestres do G.O.L. desde a sua fundação (1802) até à atualidade, e dos Grão Mestres da Grande Loja Regular de Portugal, criada em 1991, como veremos adiante. O Governo Provisório restituiu o Palácio Maçónico e a Maçonaria pôde retomar os seus trabalhos com força e vigor, à luz da liberdade reconquistada para a qual contribuiu decisivamente através dos seus membros que nunca desistiram de lutar pela democracia. (…)”

Arnaut, António (2017). Introdução à maçonaria. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra

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